A baixa no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas em todo o país levantou a discussão sobre formas alternativas para geração de energia. A chamada bioeletricidade, energia produzida a partir do bagaço da cana-de-açúcar, pode ser uma alternativa.
— Para mim é inexplicável (o baixo uso da energia). Eu não consigo entender como um combustível que só o Brasil tem disponível, na quantidade que tem, desperdiçado como está sendo desperdiçado aqui dentro do país — diz o consultor Onório Kitayama.
No início, as usinas utilizavam a energia apenas para consumo interno. Com o tempo, a energia passou a ser injetada na rede, principalmente na região Sudeste. Hoje, representa 4% da matriz energética do país. Um índice baixo se levado em conta todo potencial do setor.
— Se você considerar que o país hoje já produz mais de 500 milhões de toneladas de cana, isto significa bagaço e palha, uma produção de biocombustível de biomassa na ordem de 250 milhões de toneladas. Se considerar que com cada tonelada de cana eu posso gerar 80 KW por hora de energia para injetar no sistema, o potencial que poderia ser usado para geração é muito grande. Eu diria que hoje o setor tem praticamente uma Itaipu — avalia Kitayama.
E tem mais vantagens. O período da safra da cana coincide com o de seca dos reservatórios. Q explicação para um uso tão restrito da biomassa é a chamada modicidade tarifária dos leilões de energia, que deixou mais atrativo o preço da energia eólica.
— Se a gente imaginar que esta geração a cada 1000 MW provocaria uma economia de 4% no nível dos reservatórios das hidrelétricas, neste momento a gente percebe o quanto está fazendo falta este aproveitamento de geração — explica.
Para José Manoel Biagi Amorin, especialista em comercialização de energia, a bioeletrecidade tem espaço, mas precisa ser devidamente regulada.
— Tem muito espaço para bioeletrecidade, principalmente por ela estar próxima ao centro de consumo. Por outro lado, você tem que ter incentivo e crédito para a indústria e preço para venda do produto final. Se você quer ter uma matriz diferenciada, tem que ter uma política para cada uma destas energias, seja no mercado regulador, seja no mercado livre — afirma.
— Eu acho que tudo isto deveria ser refletido neste momento para buscar uma correção no planejamento estratégico que se faz na área de energia — diz Kitayama.
Fonte: Canal Rural
Foto: Emerson Souza