As mudanças climáticas têm causado alterações nas fases de reprodução e de desenvolvimento de várias culturas agrícolas, entre elas o milho, trigo e café. Os impactos dessas alterações já se refletem na queda da produtividade no setor agrícolas do Brasil.
No país, as mudanças climáticas já modificam a geografia da produção agrícola, afirma o diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Hilton Silveira Pinto. O ano passado foi o mais seco desde 1988, quando o Cepagri iniciou suas medições climáticas. Registrou-se uma média de 1.186 milímetros de chuva contra 1.425 milímetros observados nos anos anteriores. O mês mais crítico do ano foi dezembro, quando choveu 83 milímetros. A média para o mês é 207 milímetros.
“O final de ano muito seco atrapalhou bastante a agricultura em São Paulo, porque a época de plantio dos agricultores daqui é justamente no período entre outubro e novembro – disse Silveira Pinto durante sua palestra no Workshop on Impacts of Global Climate Change on Agriculture and Livestock, realizado em maio, em São Paulo.
Segundo o pesquisador, a partir dos anos 2000 não foi registrada mais geada em praticamente nenhuma área de São Paulo, evidenciando um aumento da temperatura no estado. Um reflexo dessa mudança é a migração da produção do café em São Paulo e Minas Gerais para regiões mais elevadas, com temperaturas mais propícias para o florescimento da planta. A cada 100 metros de altitude, a temperatura diminui cerca de 0,6 ºC, diz o pesquisador brasileiro.
Durante o período de florescimento do café, quando os botões florais tornam-se grãos de café, a planta não pode ser submetida a temperaturas acima de 32 ºC. Apenas uma tarde com essa temperatura é suficiente para que a flor seja abortada e não forme o grão.
– O registro de temperaturas acima de 32 ºC tem ocorrido com mais frequência na região cafeeira de São Paulo. Com o aquecimento global, deverá aumentar entre 5 e 10 vezes a incidência de tardes quentes no florescimento da planta, explica Silveira Pinto acrescendo que o café deverá começar a ser produzido nos próximos anos em Estados mais frios, como Paraná e Santa Catarina.
Fonte:FAPESP