Amigos do site Sertanejo Oficial e amantes da música sertaneja hoje vamos conhecer um pouco do tropeirismo e algumas curiosidades deste negócio que ajudou no desenvolvimento de grande parte do nosso interior brasileiro. Sua herança no país desenvolveu a economia e criou dezenas de cidades.
A palavra “tropeiro” deriva de tropa, numa referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadorias no Brasil colônia. O termo tem sido usado para designar principalmente o transporte de gado da região do Rio Grande do Sul até os mercados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O tropeirismo foi um ciclo de grande importância para a economia e a fixação do homem no interior do Brasil, tanto quanto os ciclos do café, da cana-de-açúcar, do ouro, da borracha entre outros.
Os Jesuítas ajudaram a provocar as primeiras atividades tropeiras no Sul da América. Os padres incentivaram os primeiros transportes em lombos de mulas entre os vários povoados missionários. E foram também os missionários os descobridores dos passos de travessia dos rios principal obstáculo dessa atividade.
O crescimento das missões acabou influenciando na pecuária, de forma extensiva, geralmente com o gado solto, com o objetivo de alimentar os índios. Dessa maneira a região sul passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio, que seria escravizado, e o gado, além das mulas e cavalos.
Ainda nos anos do século XVIII, os tropeiros eram parte da vida da zona rural e cidades pequenas no sul do Brasil. Vestidos como gaúchos com chapéus, ponchos, e botas, os tropeiros dirigiram rebanhos de gado e levaram bens por esta região até São Paulo, comercializados na feira de Sorocaba. De São Paulo, os animais e mercadorias foram para os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
O tropeiro iniciava na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante (compra e venda de animais) e o condutor da tropa. Usava chapelão de feltro cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, manta ou beata com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteger-se nos terrenos alagados e matas. O tropeiro montava um cavalo que possuía sacola para guardar a capa, a sela apetrechada, suspendia-se em pesados estribos e enfeitava a crina com fitas. Chamavam “madrinha” a égua ou mula já envelhecida e bastante conhecida dos outros animais, que era a cabeça da tropa e abria o percurso, com a fila de cargueiros à sua retaguarda; “malotagem” eram os apetrechos e arreios necessários de cada animal e acondicionamento da carga; e “broaca” os baús de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar a mercadoria.
Em torno dessa atividade primitiva nasceram várias profissões e indústrias organizadas, como a de “rancheiro”, proprietários de “rancho” ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente a hospedagem não era retribuída, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque as tropas conduziam cozinhas próprias.
A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas e acumulando geralmente a profissão de veterinário. A incumbência de domar os animais ainda chucros era também uma decorrência do regime de transportes e chamavam-se “paulistas”, porque conduziam ao destino os animais adquiridos em Sorocaba. No norte de Minas, “paulista”, “peão” e “amontador” eram sinônimos, mas tinham significação específica. Assim, “paulista” era o indivíduo que amansava as bestas à maneira dos peões de São Paulo. Peão era todo amansador de eqüinos e muares à moda do sertão, e amontador era apenas o que montava animais bravios para efeito de quebrar-lhes o ardor. Depois é que vinha o “acertador”, homem hábil e paciente, que ensinava as andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato do freio. Essa era a mais nobre de todas.
Muitas letras de música sertanejas de raiz, histórias e lendas relacionadas ao transporte de gado e mulas fazem sucesso até hoje. Nos rodeios os tropeiros são fundamentais para a realização e qualidade das festas do peão. Semana que vem tem mais curiosidades e histórias da nossa cultura brasileira, grande abraço a todos.
Por: Luiz Henrique Pelícia (Caipirão) para o site Sertanejo Oficial
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